OPINIÃO – Nós brasileiros, quem somos? 3l4164

"Não há um consenso. Na verdade, somos um grande mosaico regional, cujo epicentro originário, o nordeste, não coincide com as sobreposições que se lhe acrescentaram..." 6y3u13

Operários (obra de Tarsila do Amaral - 1933)
25 de maio de 2025

José Bonifácio, o Patriarca da Independência, já se perguntava sobre nossa identidade. Letrado no Iluminismo, contemporâneo da Revolução sa de 1789, dava-se conta de que detínhamos um Estado, supostamente autônomo, ainda que sob o alcance das canhoneiras inglesas, mas faltava uma Nação. Daí suas iniciativas, frustradas quanto à inclusão de nativos e negros. Diversos autores, décadas depois, continuaram indagando sobre nossa natureza: Um povo triste? Um povo cordial? Uma cultura antropofágica? País negro? Mestiço? País do carnaval e do futebol?

Não há um consenso. Na verdade, somos um grande mosaico regional, cujo epicentro originário, o nordeste, não coincide com as sobreposições que se lhe acrescentaram. O Rio de Janeiro é uma cidade cosmopolita, mas fechada em si mesmo, hoje mergulhada no narco estado. São Paulo é uma locomotiva movida por um punhado de empresas e gentes multinacionais, que tanto está no Brasil, como poderia estar no Canadá ou Austrália. Acreditam piamente que os “bandeirantes” construíram as fronteiras do Brasil… Minas Gerais, a mais próxima de uma “cara” do Brasil, vez que genuinamente sintética de várias contribuições, é “um Estado de Espírito”. Paira poeticamente do cume de suas montanhas sobre o que escorre pelos vales da Nação. O Norte, “descoberto” pelos militares de 1964, que criaram a SUDAM. Zona Franca e a Transamazônica é o frágil continente verde de baixa densidade demográfica, permeado de aldeias indígenas,  e ameaçado pelo ‘agrobusiness’ e pelo conluio do narcotráfico com o garimpo. O Centro Oeste, a nova terra de promissão econômica que destrói o cerrado e sufoca as principais nascentes brasileiras. O Sul, com um Estado ao seu extremo, o Rio Grande, perdendo população e agonizando diante de uma severa crise de lideranças que não conseguem enfrentar os desafios das mudanças climáticas e do seu parque produtivo; Santa Catarina, um mosaico de culturas, que avança empreendedoramente sem uma referência histórica de e e o Paraná, uma eterna promessa, num prolongamento de São Paulo ao norte, até Londrina, gaúchos ao Sudeste e a gelada  República de Curitiba, que pouco tem a ver com o Brasil, querendo dar receitas para consertá-lo.

Diante disso, fica-se a pensar: Quem somos?

Recente pesquisa de DNA dos brasileiros , feita pela Universidade de São Paulo, comprova que somos mesmo “mestiços” com cerca de 60% de sangue europeu, 27% negro e 13% nativo, mas 8 milhões de variantes étnicas  dispersas pelo território. Somos, muito mais que os americanos, um “melting pot” populacional. Mas os pretos se reivindicam maioria, porque somam os que se denominam negros com os mestiços, alegando que a mestiçagem foi decorrente da violência dos homens brancos contra as mulheres negras. Mas já há um movimento autônomo de “mestiços” rejeitando essa tese e exigindo o estatuto próprio como tal. Para gáudio de Gilberto Freira e Darcy Ribeiro. Povos originários, de outra parte, foram sumariamente destroçados pelos colonizadores, como ocorreu no Rio Grande do Sul na destruição das reduções jesuíticas. Dos seus vestígios reparam-se suas culturas em áreas protegidas, alcançando hoje apenas 1 milhão deles.

Persiste, pois, a indagação: QUEM SOMOS?

Celso Furtado, então Ministro da Cultura, tentou explicar sociologicamente nossa natureza. Foi bem sucedido quanto à nossa elite, que classificou como “bovarista”. Mas só a Poesia, talvez nos defina, ou enigmaticamente nos proponha. Foi o que fez Drummond:

 

         HINO NACIONAL

 

Precisamos descobrir o Brasil!

Escondido atrás das florestas,

Com água dos rios no meio,

O Brasil está dormindo, coitado

Precisamos colonizar o Brasil.

(…)

 

Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!

Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,

ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.

O Brasil não nos quer! Está farto de nós!

Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.

Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?

 

Por isso, se tivesse que dar uma face aos brasileiros, preferiria a Lady Gaga. Afinal, com ela comungam mais de dois milhões de brasileiros. Prefiro, aliás, a dela do que a dos 300 deputados federais que se apoderaram do Orçamento da República, num conluio onde não falta de defesa de figuras grotescas como um delegado golpista e uma faroleira de ocasião.




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