O mundo está atravessando um período de grandes transformações que exala perplexidades. Não se trata, apenas, de mudança tecnológica, com o advento da Inteligência Artificial que altera substancialmente os processos de tratamento da realidade, confundindo, cada vez mais nossas percepções do concreto e do artificial. Houve, também, mudanças na estrutura econômica, com uma sobreposição do financeiro sobre o produto físico que aposentou até mesmo as teoria da exploração do trabalho como fundamento da acumulação de capital. Trilhões de dólares giram no mercado mundial em Bolsas de Valores, Financiamentos de dívidas estatais e créditos em geral. Vivemos num mundo cada vez mais volátil, ao que um famoso sociólogo, Zigmunt Baumann, deu o nome de modernidade líquida. Marx já advertira no século XIX que tudo o que é sólido desmancharia no ar. Mas nunca imaginamos muito bem, até agora, o que isso queria dizer. Leio, a propósito, nestes dias, um livro que fala da reversão dos maias à religião e aos templos religiosos, reconstruídos, justamente quando já mergulhados na decadência que os levaria ao desaparecimento. Talvez seja o único porto seguro das pessoas quando sentem mudanças que sequer entendem muito bem: a segurança espiritual.
Mas soma-se à mudança estrutural, vivida outrora na agem do medievo para a Era Moderna, a mudança na geografia do poder mundial. Há 500 anos giramos em torno do Atlântico, ando, gradativamente, da hegemonia de Itália Renascentista para a Península Ibérica, depois para a França e Inglaterra, enfim, para os Estados Unidos. Este cenário mudou com o crescimento vertiginoso da China que hoje estende sua influência por todo o Sul Global, colocando-o em confronto com o “Ocidente”. Não são chineses e comunistas que reconhecem este processo. É , por exemplo, um conceituado líder europeu, Josep Borrell, ex-vice-presidente da Comissão Europeia, que afirmou com todas as letras: “A supremacia ocidental terminou”. Neste contexto, os modelos ideológicos, políticos e econômicos que moldaram nossas instituições já não respondem às demandas sociais que ajudaram a edificar. Está tudo ruindo e nem adiante convocar a guerra ou chamar a Polícia para a uma reengenharia ainda que estética. Se houver uma III Guerra Mundial, já advertida pelos russos, não sobrará ninguém do holocausto nuclear. E a segurança interna de cada país, capitula diante de disfunções sociais que produzem uma inusitada e poderosa criminalidade, à qual se associam interesses políticos. Vide a recente descoberta de um Grupo do Crime denominada C4, no Mato Grosso. Ou a declaração de um Delegado de Política do Rio de Janeiro, na prisão de um cantor – não é o primeiro, nem será o último – , ligado ao tráfico, que tem milhões de seguidores nas Redes Sociais: “Nossa tarefa, agora, não é combater só o crime, é combater a guerra informacional a ele associado”.
Não estamos, no Brasil infensos a esse processo e ele se reflete na governabilidade do Lula III. E é no seu próprio campo que se anunciam as rachaduras, seja no âmbito da Frente , com o confronto com o Congresso Nacional em torno do IOF, seja na própria Esquerda: O PSB, que indicou o Vice Alkmin, já rejeitou a proposta de criar um Federação com o PT, o PDT está “costeando a cerca” da direita, o PV decidido a abrir caminho por conta própria. Nestes dias, Zé Dirceu, abriu bala contra a Política Econômica e já se prevê dias difíceis para Haddad. Tudo sob o véu da grande crise estrutural que afeta os fundamentos da nossa vida cotidiana. Gera perplexidades inarredáveis. Sono ruim. Depressão. Desespero…